sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A greve dos poetas


Os poetas fizeram greve
e todos os jardins saíram em passeata

Os poetas fizeram greve
e as palavras se aglomeraram nos bares para beber cachaça falsificada

Os poetas fizeram greve
e os lírios perderam sua última esperança e acabaram se suicidando em massa

Os poetas fizeram greve
e todos gargalharam. Menos a fada, que tocou o alarme

Os poetas fizeram greve
e ninguém deu aumento. Ao contrário, cortaram a subsistência de quem verseja na rua vestido de mendigo

Os poetas fizeram greve
e as autoridades mandaram trancafiar o amor para impor as negociações

Os poetas fizeram greve
e as hostes da defesa ficaram imobilizadas na fronteira, sem os tambores épicos das convocação

Os poetas fizeram greve
mas as crianças estão fazendo trabalho voluntário até ser resolvido o impasse

Os poetas fizeram greve
e se concentraram no fundo do mar, acobertados pelas sereias

Os poetas fizeram greve
e as mulheres ficaram à mercê do assédio inspirado no desprezo

Os poetas estão em greve! gritou o Grumete.
Não vai durar, disse Jack o Marujo. Ninguém vai correr o risco de ter sereia brava no alto mar

Acabou a greve dos poetas,
que recolhem as palavras bêbadas com a súbita liberdade. Voltem pra casa, dizem os ex-grevistas. Nós amamos vocês

No final da greve dos poetas,
houve um tsunami de lençóis

Nei Duclós

Um comentário:

  1. Bela edição do poema, Anderson! Maravilha! Tua foto, então, que coisa, magnífica como sempre. Abs. do companheiro de viagens pela poesia e a arte.

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