sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Diferentes formas de um mesmo dia



Voa por mim...

Ó pássaro alegre de cor vivente,
Tu voas livre sobre as flores.
Corres apressado entre as ramas,
E vais sonhando pela alma do prado
Com esse ar despreocupado,
Na calma dos cantos da liberdade,
Num encanto que tanto amas.

Também eu queria como tu,
Rir e cantar de contente,
Voar alto e livremente!
Mas apenas sei morrer de amores,
Acorrentado á melodia
Do meu triste fado.
Pressinto que zombas de mim
Pelas penas do que eu aqui peno,
Dentro de uma gaiola de tempo,
Onde, neste céu...
Só vejo o azul das horas.

Por isso vai!...
Vai depressa, sem demoras!...
Voa com as penas que eu aqui passo,
Bate forte as tuas asas
Sobre as águas que eu aqui choro,
E sobre o céu de outras casas,
Vai por mim, saber de um amor
Que longe e ausente...
Eu tanto adoro!


Moisés Correia - http://pensamanzas.blogspot.com/

Solo mirando el sol


URUGUAI

Aquele rio de nome estrangeiro
não nos pertence
Se é também nosso
é porque é só deles

Ficamos com a terra
mas perdemos o rio
Como cortar a água com a faca?
Como inscrever uma cerca
na correnteza?
Como contentar-se
com uma só margem?

Aquele rio, de nosso
tem apenas a paisagem
O rio mesmo, suas águas,
o barro no fundo,
os peixes e também
os fantasmas são de outro país

Aquele rio estrangeiro
entretanto é a minha pátria
Porque nele minha infância
molhou os pés sob os olhos
vigilantes da mãe
que não permitia a água chegar à cintura
Porque nele, adolescente,
pesquei piavas ligeiras
que assobiavam na superfície

Porque tornou-se meu com o tempo
deixou de ser estrangeiro?
Quando estou do outro lado da ponte
onde fica o rio que é meu?

Aquele rio permaneceu
com seus arroios onde imperou meu pai
que hoje me abraçam sem jamais revelar
a que nação de verdade pertenço
Talvez faça parte da pátria
comum da poesia
Mas um pescador precisa de peixes
não de poemas
precisa de anzóis,
não de canções

Estendo toda noite o espinhel
das minhas perguntas
naquele rio dividido
entre o país do meu pai
e a nação que inventei durante a vida

Poeta uruguaianense Nei Duclós