O peixe deixa-se fisgar para entender tudo
Essa sombra que se curva como um convite
Usou o braço que o suga no mistério em fuga
Queria conhecer o sol, mas já é crepúsculo
Sabe que não pode voltar depois do salto
As espirais na água são o fim da linha
O peixe quis saber o motivo da armadilha
O perfil do mundo que o puxa para cima
Antes de sumir vemos que treme sem luta
À espera do milagre na paisagem tardia
Quem sabe o homem no auge do sufoco
Poupe-o do anzol e de tantas perguntas
O peixe enfim aflora como palavra oculta
Como poema no fundo que ronda o espinhel
O pescador enganou-o com iscas e silêncio
Agora observa a cena de prata do seu corpo
A noite de tocaia cerca as margens escuras
Surda sala de espera de uma nova estrela
Poeta uruguaianense Nei Duclós sobre foto de A. Petroceli