segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Naves espaciais


 Universos

Alheio às conquistas espaciais,
longe dos homens que engenham guerras,
sabe apenas das coisas que o rodeiam
nesse seu mundo,
atrás dos aramados.


Conhece a oração da ramaria
que o sarandi sussura, ajoelhado,
quando por ele passa a ventania;
conhece a paz que nasce
em cada chuva
e canta em cada flor;
sabe do sol que volta a cada dia,
como a esperança que, ontem, perdeu;
sabe da luz igual das três-marias,
da ternura dos bichos pelas crias,
do carinho da terra onde nasceu...


Sol de seu rancho...


Lua de seus sonhos...


No universo sem fim dos verdes campos,
a órbita final dos aramados.


A ti que, em vez do ímpeto selvagem
do potro que se atira contra os ventos
numa ânsia animal de liberdade,
conheces o furor da espaçonave
a derrubar barreiras e mistérios,
em busca da razão e da verdade;
a ti, que és seu irmão e és astronauta,
peço que não esqueças que ele existe.
Dá-lhe um pouco do muito que alcançares
dos progressos dos homens deste tempo,
das conquistas de mundos colossais.


Talvez penses que em face do universo
um rancho e o pampa nada representam;
a paz das chuvas... a razão das flores...
a ternura dos bichos... os seus sonhos...
e esse amor à terra onde nasceu.


Mas se um dia te cansares
de em naves espaciais cruzar o cosmo,
nessa busca febril do ignoto,
nessa ânsia de luz do ser humano
mesmo assim não esqueças que ele existe
e que em seu mundo ainda, como antes,
há de cantar a paz
na flor dos campos,
há de florir o amor
em cada chuva,
no brilho sempre igual das três-marias,
na ternura dos bichos pelas crias,
no carinho da terra onde nasceu;
há de rezar a Deus
a voz dos ventos
e há de voltar
a cada novo dia
toda a esperança que, ontem, morreu!


Colmar Duarte - Poeta uruguaianense
Sesmaria dos Ventos -1979